O eterno paradoxo
Consistência na inconsistência, quem nunca?
escrito por Andre Cruz
"Eu quero mais, mais e mais, mesmo sabendo que nunca será o suficiente."
Esse é um eterno paradoxo.
Uma caixa de Skinner só que mais tecnológica. E nem é preciso pressionar a alavanca, basta dar um clique ou um like e bingo, vem a droga, e de todos os tipos.
É o hiperconsumo compulsivo.
Está tudo à mão e bem facinho, do necessário ao desnecessário.
O fácil acesso e o scroll eterno dando aquele empurrãozinho para a dependência.
Quando se consegue algo fácil demais, a probabilidade de se experimentar é maior. E experimentando, acabou-se o que era doce, já era my friend!
São enormes doses de dopamina invadindo seu cérebro.
E quanto mais, mais. Loop sem fim.
A internet estimula um consumo compulsivo e desenfreado fornecendo mais acesso às drogas - velhas e novas - e também sugerindo um novo comportamento.
Imitação. Afinal, somos imitadores….. e nem sempre sabemos porque fazemos o que fazemos. Mas fazemos!!!!
Será a imitação e senso de pertencimento também uma droga?
Tem um experimento interessante e fácil de fazer.
Em uma festa, evento, balada, escolha um local que não tenha nenhum copo, pode ser uma mesa, um canto qualquer.
Coloque lá o seu copo e observe. Verá que em pouco tempo esse espaço se tornará um local com vários copos.
Você criou um padrão para os outros seguirem.
E sim, os outros te seguirão!
Senso de pertencimento
ou pânico de não pertencer
A hipótese do pertencimento, foi proposta pelos psicólogos Roy F. Baumeister e Mark R. Leary, em 1995. Eles sugerem que o desejo por ter relações interpessoais é uma motivação fundamentalmente humana.
Os seres humanos
são animais sociais.
Quando veem outras pessoas se comportando de certa maneira - on-line ou não - entendem que esse é um comportamento 'normal', o cérebro dá essa leitura.
E, por ser um comportamento 'normal' , pode ser repetido, para o bem e para o mal.
E lá vamos nós novamente ao comportamento, à imitação, ao senso de pertencimento, à dopamina, às drogas e ao querer mais e mais.
E quanto mais conectividade, menos conexão. Opssss!!!
E para isso acontecer é preciso de uma ação, é preciso tomar uma decisão.
A tomada de decisão é parte fundamental do comportamento humano.
Iinúmeras decisões são tomadas todos os dias, toda hora, todo minuto, todo segundo.
Algumas conscientes e outras inconscientes.
Elas influenciarão absolutamente tudo (a curto, médio e longo prazo), da saúde, bem-estar, finanças à relacionamentos e perspectivas futuras.
Se há decisão, há escolha.
Para todo sim existe um não.
"Que não vejo, mas vejo,
Que não ouço, mas ouço,
Que não sonho, mas sonho,
Que não sou eu, mas outro…",
Há alguns anos, Barry Schwartz escreveu o livro “O Paradoxo da Escolha”. Com diversos argumentos explica que, em algum determinado momento ter um monte de opções, em vez de nos libertar, nos paralisa.
Isto acontece porque, com tanta coisa para escolher, nunca teremos certeza de que fizemos a escolha certa, mesmo que naquele momento ela seja perfeita.
Com certeza você já viveu isso!
Você já esteve em um restaurante self-service e se deparou com tantas opções que não sabia qual escolher e acabou enfiando tudo no prato seguido de um enorme arrependimento?
Ou ficou horas escolhendo um filme na Netflix ou Amazon Prime e se arrependeu da escolha?
Ou comprou algo, depois de pensar muito, e mais tarde sentiu que poderia ter escolhido melhor? Novamente bateu um arrependimento?
Se a sua resposta foi sim, parabéns!
Você entrou no paradoxo da escolha!
"O remorso é, como a mordida de um cão em uma pedra, uma tolice", Nietzsch.
Perco, mas ganho.
Daniel Kahneman e Amos Tversky descobriram uma tendência de atribuir mais peso a uma perda do que a um ganho, de tamanho igual ou comparável.
É a "Aversão à perda".
"Todos amam o que lhes falta”,
diz Schopenhauer
Se apenas a razão existisse nos momentos de decisão, seria muito complicado tomar uma decisão. Deixaria todos completamente loucos.
E se as decisões fossem tomadas sem recorrer às emoções, só com a interferência do raciocínio, levaria-se tanto tempo para analisar logicamente todas as opções, e suas respectivas consequências, que a tomada de decisão completamente inviável.
Razão e Emoção.
Vive-se na era do excesso de conexões, são infinitas interações simultâneas. É uma enxurrada de informações e, nem todas confiáveis.
O que leva a outro paradoxo.
É o paradoxo das notícias. Quanto mais notícias você consome, menos informado você fica.
Mas não fazer parte deste mundo traz sentimentos fortes de não pertencimento e geram extrema ansiedade que podem gerar depressão.
Em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofrem de depressão.
De acordo com a publicação “Depression and other common mental disorders: global health estimates”, há 322 milhões de pessoas vivendo com esse transtorno mental no mundo. E a prevalência é maior entre as mulheres.
O novo relatório global mostra que a depressão atinge 5,8% da população brasileira, são 11.548.577.
Já os distúrbios relacionados à ansiedade afetam 9,3%, das pessoas que vivem no Brasil. Número? 18.657.943.
É o "Estou cheio de me sentir vazio". Alguém já sentiu isso?
Biologicamente, o cérebro ainda tenta se adaptar a essas modificações, a rapidez com que tudo acontece, aos novos hábitos de consumo, à facilidade com que tudo chega e acontece, e de forma rápida e instantânea.
O cérebro no comando
No conceito de “gargalo de ruído”, Nassim Taleb sugere que mais dados levam a uma maior relação ruído-sinal, portanto, ao consumir mais, você acaba sabendo menos sobre o que realmente está acontecendo.
"Quanto mais aprendo, mais percebo o quanto não sei.",
Você chama um Uber e ele vai "demorar" 11 minutos, o que é inconcebível. Prefere cancelar e chamar outro, que chegará em 5 minutos.
Isso é obviamente insano pois o tempo de cancelar mais a espera até que o outro aceite e chegue é muito maior. Mas para o cérebro essa é uma escolha super vantajosa, ele, ou melhor, você, fica super feliz pelo tempo ganho (?). Sério? A conta não fecha, matemática pura.
Mas o cérebro domina, afinal são 11 minutos X 5 minutos e ponto final! Quem nunca?
Vemos com o cérebro, não com os olhos.
A vida é uma carência seguida de saciedade. Há satisfação depois da saciedade? Por pouco tempo. Quase em seguida o tédio e o vazio retornam e é preciso agir novamente para escapar desse vazio.
Loop sem fim.
Decisão. Tecnologia. Pertencimento. Imediatez. Hiperconectividade. Ansiedade. ufaaaaa!!! O cérebro está bugando.
"Eu mesmo, comigo mesmo."
Mas que no fundo o que se procura é fazer parte de algo que é relativo aos outros.
Ahhh esse eterno paradoxo!